sexta-feira, 15 de novembro de 2013

Desabafo.





As pessoas se submetem a tão pouco. Se contentam com tão pouco. São tão pouco. Vivem tão pouco. Amores tão degradantes. Tão dolorosos. Tão penosos. Ainda assim,  tão desejados. Companhias virtuais. Tão superficiais. Tão levianas. Tão amargas. E ainda assim, tão queridas. Lugares lotados. Tão bonitos. Tão chiques. Tão caros. Tão nada.  Em um mundo em que tudo tem que ter utilidade pra ser bonito, e necessita-se de tantos atributos suficientemente bons para o mercado e para a sociedade, um salve para o desaprender a ser útil. Desaprender a reprimir os sentimentos mais tristes e penosos que existem em nós que contribui para a ditadura da felicidade. Em que tudo tem que estar na mais perfeita harmonia, em uma alegria sem fim. Onde admitir a nossa fragilidade diante da vida se torna miserável e a frieza de conseguir-se sair ileso, sem quaisquer cicatriz de sofrimento por qualquer tipo de dor ou parecer como tal, principalmente por amor, subentende-se por coragem, se tornando preponderante em uma sociedade cada vez mais induzida a não falar sobre sentimentalidades, por medo de recriminação.  O sofrimento é uma condição natural do homem. Se emocionar, demonstrando através de lágrimas não deveria ser um incentivo para que pensem que se deve calá-lo.  Pelo contrário. Precisa-se deixar fluir, pois muitas vezes é uma forma de aliviar-se de um peso ou simplesmente, uma prova viva de sensibilidade diante da vida.  Renunciar ás aparências em que estamos constantemente tentando ser aprovados pelas nossas qualidades e reprimidos pelo que chamam de defeitos. Defeitos esses, que são denominados por uma sociedade hipócrita e incapaz de denominar os seus e se glorificam e se reconfortam com a desgraça alheia para certificar-se de que se está em um patamar ou condição consideravelmente razoável  de vida.  Ás aparências que tanto nos libertam e ao mesmo tempo nos destroem por apresentarmos muitas vezes, somente aquilo que projetam em nós e que com o tempo, parece inalcançáveis. Talvez seja por isso que nunca estamos satisfeitos. Introjeções que são injetadas em nós, que aceitamos indiscriminadamente sem pensarmos ou questionarmos. São corpos estranhos, tão dos outros, tão baseados nos conceitos de outros, que pouco sobra de nós.  Nunca nos saciamos. E de uma forma não tão saudável, nunca nos contentamos e estamos sempre querendo parecer bons. Mas bons pra quem? Vamos renunciar ao medo da solidão, com medo de que ela nos mate por dentro, obrigando-nos muitas vezes a manter relações destrutivas e  que nada mais tem para nos acrescentar e somente traz dor, á uma percepção de que a solidão nos constrói como pessoas e como indivíduos capazes de viver com dignidade, nos reinventando a cada dia. E tais relações tão modernas, mas tão solitárias. Onde nos restaurantes, vejo que já não se falam e raramente se olham. na maioria dos dias, sentam-se lado a lado, nunca de frente e comem como fantasmas.  Renunciar  á eterna procura de uma alma gêmea que nos complete e que de alguma forma, preencha o que não temos. Não estamos em pedaços. A amor é a soma. Não é a fusão. A plenitude não se faz na superfície. A pessoa que tens do lado guarda dentro de si. O amor nunca vai ser a metade que te mata a fome. Renunciar ás normas sociais que moldam  como somos e como podemos ser. Nos impedem muitas vezes de dizer o que está preso no nosso íntimo e nos resignamos diante das coisas que nos são indigeríveis, somente para nos adequarmos ao que é considerado ideal. E com isso, vamos perdendo parte de nós. Nossa singularidade. Nos tornamos aquilo que mais tememos hoje: Comuns. mas aí vem outra questão. O que é ser comum hoje? Onde começa a normalidade e onde termina a diferença? Ser diferente é comum. Então, o que é ser diferente? Como diz Sócrates: 'Uma vida irrefletida não vale a pena ser vivida'. Pensem nisso. Ou somente pensem. Eu estou pensando. 

Nenhum comentário: